domingo, 22 de março de 2009

Felizes para sempre até que ponto ?

domingo, 22 de março de 2009 4


Começo de um possivel  fim.

 

A rua já era conhecida por ele, caminhara por ali outras vezes, mas dessa vez era diferente das demais. O clima estava meio sombrio, denso, o cominho para casa nunca fora tão grande, mas mesmo assim seguiu soluçando entre as silhuetas escuras que às vezes lhe encaravam pelo canto dos olhos, seguia deslizando os dedos sobre a superfície áspera do muro branco que serpenteava a sua frente ate onde a vista turva alcançava, parecia interminável, na cabeça apenas imagens turvas do que havia lhe passado, no peito um aperto que parecia lhe comprimir ate a alma, seu corpo apenas seguia o que havia habituado a fazer . Era tarde, mas com certeza horário não era o que ele tinha em mente enquanto caminhava atordoado. Horas atrás estava torcendo para que os minutos demorassem a passar para que não precisasse ir embora, agora a agulha do relógio de pulso parecia não mover.

 

No começo.

 

A imagem sorridente a sua frente lhe fazia sinal para que entrasse logo, parecia ansioso, mas era evidente o ar de preocupação pairando ali, atendendo lhe o pedido deixou a calçada para traz e adentrou na casa amarela, não podia esperar mais nem um minuto pelo que passara algum tempo planejando.

A figura estendeu-lhe a mão novamente conduzindo ao interior da casa, não havia muito que falar, suas longas conversas deixavam para depois dos atos seguintes, lá dentro, o silêncio era quebrado apenas pelo som da respiração que a cada minuto se tornava mais ofegante, assim seguiu por um bom tempo.  Agora no quarto sob luz baixa cumpria se todas as expectativas.

 

Penúltimo ato.

 

A noite poderia ter terminado como qualquer conto de fadas (felizes para sempre e etc...) se não fosse pela cena de novela das oito tomando parte da realidade (a esposa bandida trai o marido com um fulano qualquer, e depois de uma bela transa ainda tem a cara de pau de contar ao corno que esta com outro), é, foi mais ou menos isso que aconteceu. Se fosse descrever detalhadamente esta cena, Shakespeare se reviraria no túmulo (que Deus o tenha!), seria o melhor drama contado por mim (e olha que de drama eu entendo).

Após o fato tinha ele duas escolhas, aceitar ser um personagem secundário de sua própria historia e seguir compartilhando de um mesmo coração, ou terminar a noite sem um beijo de despedida e seguir rumo ao muro branco ate perder de vista para sempre a casa amarela, nenhuma das opções lhe caiam bem, a historia já não era tão fabulosa como a princípio achava, a escolha era tão dolorosa quanto à descoberta anterior, mas teu orgulho e amor próprio falaram por ele, entre lagrimas e sem beijo de despedida deixou a figura em pé no portão sem expressão fitando-lhe as costas enquanto seguia cabisbaixo sumindo na noite escura que lhe absorvia.

 

Queria poder ter escrito um ato final que pudesse encerrar com “felizes para sempre”, mas nem todas as historias tem um desfecho como esperado, vou deixando então um penúltimo ato, porque talvez esse não seja realmente o final, não estou dizendo que quero continuar a escrever este conto (porque não quero), na verdade prefiro acreditar que o haverá outras historias para redigir, com finais que tragam felicidade ao personagem principal, mas enquanto isso vou seguir as linhas que um autor muito maior que eu já tratou de escrever para mim.

( Rafael Augusto)


" Um dia o homem aprenderá que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que ele o conserte. "

domingo, 15 de março de 2009

E você, o que apagaria ?

domingo, 15 de março de 2009 4

Existem coisas, fatos, romances, paixões, para complementar, “pessoas” que deveriam ser facilmente apagas de nossas mentes, que conseguíssemos deletá-las  simplesmente  como o toque em uma tecla qualquer, ainda tenho esperança que nasça alguém com capacidade mental  superior as existentes hoje, que esse prodígio seja suficientemente capaz de inventar tal beneficio para que a humanidade possa gozar de uma vida plena e sem lembranças indesejáveis rondando a sua cabeça.
Se nos fosse dado uma chance apenas de apertar essa tal “tecla” imaginaria, teríamos que usá-la com cautela, algumas lembranças dolorosas nos servem de aprendizado. Se você escolhe apagar algo que tenha lhe trazido algum beneficio que tenha passado por despercebido, você logo o perderá também, e talvez tenha alguma dor de cabeça para adquiri-lo novamente.
Se me concedessem tal beneficio, eu poderia apagar alguns fatos que me agoniaram, descontrolaram e que me deixaram em situações no mínimo desconfortáveis, mas e a experiência adquirida pós esses fatos? Bem, melhor mudar de idéia quanto aos fatos e tentar apagar um romance, daqueles barangos, casual pra ser mais sincero, mas... Porque apagaria algum desses romances pouco duradouros? Esses não me beneficiaram muito, mas também não me prejudicaram em nada (pelo menos ainda estou vivo), melhor ir seguindo a listinha, que tal deletar uma paixão ? Não seria nada mal ter uma decepção a menos na memória, mas creio que não seria muito inteligente de minha parte, pelo menos pensando de um ponto de vista diferente de alguns que se talvez tivessem vivido drama igual ou no mínimo parecido, não perderia tempo algum em duvida sobre apagar ou não, de cara apertaria “Del” e “Adeus sofrimento!”, voltando ao que interessa, eu por outro lado vou deixar as paixãoes de lado também, melhor não deletá-las, lembra que com elas iria junto todo o aprendizado obtido? Pois então, não quero viver tudo de novo.
Uma, duas ou até três paixões, e basta, quatro já seria demais, com as loucuras da primeira, com a decadência da segunda, com as lagrimas e todo o sofrimento da terceira, imagino que minha quarta paixão venha como um tornado, destroçando qualquer coisa que se imponha  a ele, incluindo a minha pessoa (isso causa medo).
O ideal então seria deixar os fatos, romances, paixões de lado, quietinhos em uma subpasta, se possível no subconsciente, e sem pestanejar pensar na pessoa que nos induziu as loucuras, decadência, lagrimas e sofrimento, e pressionar firmemente “Del”!  Seria perfeito, simplesmente dizendo, pelo menos alguns fatos, romances, paixões futuros não te relembrariam a certa pessoa (digo isso por experiência própria), e você ainda manteria seu conhecimento adquirido anteriormente, claro essa é minha idéia, a aqueles que preferem viver de lamentações eternas por um amor perdido, eu por outro lado prefiro facilitar as coisas pra mim mesmo.
Voltando a realidade, como ainda não inventaram a tecla “Del” para nossas recordações, vou sobrevivendo como posso, substituindo “arquivos antigos”, por coisas novas (se é que me entende), inovar é uma boa opção a cada final de semana (não, não sou galinha!), mas ficar parado enquanto o novo "Einstein" seja produzido não me parece ser uma idéia de gênio.

(Rafael Augusto)

domingo, 8 de março de 2009

Ataque cardiaco e folhas secas.

domingo, 8 de março de 2009 6

-   Quase não posso ouvi-lo!

Sussurrou em voz baixa. A voz que vinha de pouco abaixo do meu queixo era abafada pelo som da chuva que começara há pouco, chegava aos meus ouvidos em um tom tão baixo que quase perdia ao expandir-se no ar.

Antes de retrucar a afirmação fiquei fitando por um momento as estrelas falsas que cintilavam no céu de concreto, meus olhos faiscavam, a sonolência ia me dominando aos poucos, claro que todo o álcool consumido na cena anterior ajuda um pouquinho.

-   O que você não consegue ouvir?

Eu já sabia do que se tratava, mas preferia fazer de desentendido naquele momento.

-   Seu coração.

A resposta nem tardou a sair, as tão poucas sussurradas palavras me fizeram refletir.

Era tão imperceptível que nem eu mesmo conseguia senti-lo, mas eu sabia que meu coração estava ali (pelo menos queria muito que estivesse), não poderia ter simplesmente desaparecido, eu o havia sentindo pulsar forte, muito forte, na pequena corrida da noite passada (quase o coloquei pela boca) quando  tentava assustar as meninas com uma folha seca como se fosse uma barata  (ta eu sei, não tive infância), mas voltando ao assunto,  acho que é a idade esta me alcançando vagarosamente no gozo da minha juventude.

Onde estaria meu coração naquele momento? Queria muito um estetoscópio em mãos, e sempre bom ter certeza de tudo (ainda mais quando esse “tudo” se refere a nossa pessoa), pelo menos assim eu ficaria menos preocupado com a ausência de um coração em meu peito.

Peguei meu pulso esquerdo, pressionei meus dedos no ponto exato, e lá estava ela (alívio), a pulsação, nunca foi tão agradável senti-la, pelo menos agora sabia que algo estava bombeando o sangue para o restante de meu corpo. Bem, creio que era o coração, pois até hoje desconheço outro órgão que tenha tal funcionalidade, acho que nenhum se assemelha a ele.

Imagina se de uma hora para outra um órgão qualquer assumisse o renomado cargo cardíaco, e assim sucessivamente ate que eu estivesse pensando por outra cabeça (é, eu sei que minha imaginação é foda).

Acho que ainda tem muito etanol em meu organismo (vou parar de beber! “haha” até parece). Esses pensamentos tomaram alguns segundos de meu raciocínio ate que finalmente se transformaram em palavras.

-   Acho que estou tonto.

Nossa! São incríveis essas desculpas esfarrapadas elaboradas momentaneamente para abafar qualquer situação que possivelmente possa nos trazer algum desconforto futuro. Na verdade  naquele momento eu estava desconfortável, pouco empolgado, meio alcoolizado e nada excitado! Pronto, se fosse tudo ao contrario a noite seria no mínimo prazerosa (não, eu não sou pervertido!). Mas nem sempre as noite são como planejamos, não que eu tenha planejado nada, mas é que... melhor deixar pra lá.

-   Então não beba mais.

-   Tudo bem. (fim de papo!)

O resultado de uma desculpa esfarrapada bem dada pode ser muito satisfatório, alem de você se livrar de uma possivelmente cara amarrada ou uma discussão ilógica sobre “o que há de errado comigo?” (neste caso com a outra pessoa),se você for “expert” no assunto pode ainda levar lucro na historia, digamos em palavras mais simples que desculpas esfarrapadas aplicadas de tal forma não fazem mal a ninguém, os dois lados saem satisfeitos (alias, talvez não completamente), ainda estou alterado, desgastado, e continuo virgem (“haha”).

Mas pelo menos no fim de tudo sei que tenho coração, neste silêncio cruel que habita meu quarto abafado, é nítido o som emanado de meu escasso peitoral.

Mesmo que eu não use muito de minha bomba ejetora de sangue (inconscientemente falando), ele estará ali, pra quem sabe um dia alguém consiga lhe provocar um ataque cardíaco.

( Rafael Augusto )